um bocadinho de inverno
- Vou ter saudades de ti – disse o Coelho. – Vais ter saudades de mim?
- Não – disse o Ouriço.
- Eu vou ter saudades de ti – disse o Coelho.
- Já sei – disse o Ouriço -, ainda agora mo disseste.
- És esquecido – disse o Ouriço.
- Esquecido? – disse o Coelho.
- Se não fosses esquecido – disse o Ouriço -, lembravas-te de por que é que eu não vou ter saudades de ti.
- Lembra-me – disse o Coelho.
- Vou estar a dormir – disse o Ouriço. – Quando estamos a dormir não temos saudades dos amigos.
O Ouriço pegou numa pedra bicuda e foi até à árvore. O Coelho comeu uma ervinha verde, e depois uma florinha, e depois um trevo.
O Ouriço escreveu uma mensagem na casca.
- Não – disse o Ouriço.
- Eu vou ter saudades de ti – disse o Coelho.
- Já sei – disse o Ouriço -, ainda agora mo disseste.
- És esquecido – disse o Ouriço.
- Esquecido? – disse o Coelho.
- Se não fosses esquecido – disse o Ouriço -, lembravas-te de por que é que eu não vou ter saudades de ti.
- Lembra-me – disse o Coelho.
- Vou estar a dormir – disse o Ouriço. – Quando estamos a dormir não temos saudades dos amigos.
O Ouriço pegou numa pedra bicuda e foi até à árvore. O Coelho comeu uma ervinha verde, e depois uma florinha, e depois um trevo.
O Ouriço escreveu uma mensagem na casca.
Querido Coelho
por favor guarda-me
um bocadinho
de Inverno
para quando
eu acordar
Saudades
Ouriço
X
(…)
Nesse ano o Inverno foi rigoroso. Caiu neve. O lago gelou. O Coelho estava quentinho na toca, mas tinha fome.
- Isto é que é aborrecido no Inverno – disse o Coelho, enquanto saltava para fora. – Quanto mais frio está, mais comida eu quero.
Olhou em volta.
- E quanto mais frio está, menos comida encontro.
Não havia erva verde.
Não havia trevos verdes.
O Coelho teve de se contentar com coisas castanhas.
Folhas castanhas.
Casca castanha.
Uma bolota castanha.
Quando o Coelho viu as palavras na árvore, ficou tão surpreendido que deixou cair a bolota.
A bolota rolou.
Juntou neve.
Transformou-se numa bolinha de neve.
Ed. Caminho, 2ª edição, Fevereiro 2003, Texto de Paul Stewart, Ilustrações de Chris Riddell
Excelente!!! It made my day... Jinhos
Joana disse... 20.9.06
Muito bonito! Lindo! Vou ler à minha M.
Rita disse... 20.9.06
Que bonito. Eu também gosto muito desta literatura!
Isabela Figueiredo disse... 8.10.06
Já tenho saudades de postar os meus livros também. Adorei ler este.
K. disse... 10.10.06
Tu não vais acreditar... mas vim parar a este blogue quando procurava no google algo que nada tem a ver com este post. Era um assunto que está num post mais lá para outros dias e para outras idades. E fiz referência a esse post e esse outro livro no blogue do costume. Espero que não levem a mal. Para ti, Nat, um beijo imenso. E já agora... Há algum sítio onde não estejas?:-)
Lola disse... 24.10.06
Querida Lola, que bom encontrar-te aqui. Parece que o destino teima em fazer-nos cruzar caminhos. É que, pelos vistos estou em muitos sítios (não tantos assim, apenas os suficientes para a ilusão) mas tu não estás em menos :)
Nat disse... 27.10.06
Eu conheci este livro há 3 ou 4 anos. Ainda o releio. Às escondidas, que esta gente crescida tem a mania que só vale ler coisas de adultos. Como se esta não fosse. Pfff...
Anónimo disse... 27.10.06
eu sou assim, como o ouriço... smepre na toca... e assim ninguém sabe de quem tenho mesmo saudade...
inominável disse... 5.11.06
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