Deus sabe que mais
p. 13
É sempre numa casa que estamos sós. E não fora dela, mas dentro dela. No parque há pássaros, gatos. Mas, às vezes, também um esquilo, um furão. Não estamos sós num parque. Mas, em casa, estamos tão sós que, por vezes, nos perdemos. Sei, agora, que lá permaneci dez anos. Só. E para escrever livros que me fizeram saber, a mim e aos outros, que eu era a escritora que sou. Como é que isso se passou?
(...)
p. 130
Que também há criaturas animais sem identidade, bolsas de inchaços, doçura de uma pintura muito antiga que as teria identificado. Sinais que têm ar de ser coisas. Troncos de árvore que partem, abandonam. Torsos de serpente do mar em humidades de nascente, de espuma. Escorregadelas, aparecimentos, aproximações possíveis entre a ideia, a coisa, a sua inanidade, a matéria da ideia, da cor, da luz, e Deus sabe que mais.
Marguerite Duras, Escrever, 1994, Linda-a-Velha, Difel, tradução de Vanda Anastácio
Apaixonei-me por Marguerite Duras com o filme "Hiroshima meu amor".
Este livro não é o que recordo mais, já o li há uns anos. O que mais gostei foi "O Amante". Cru, frio e contudo, tão sensível. Não o sei descrever melhor. Sei que cada vez o recordo procuro-o nas prateleiras das livrarias pois fiquei sem o meu exemplar, só para o reler.
Teresa Durães disse... 3.4.06
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