O Fim da Aventura, de Graham Greene






O fim da aventura, Graham Greene*
Edições asa,

imagem scanneada a preto e branco, mil desculpas
prefácio do Jorge de Sena, grandebemhaja

"Uma história não tem princípio ou fim: escolhemos arbitrariamente um momento da experiência, de onde olhar para trás, ou olhar para diante.
(...)
O sentido da infelicidade é muito mais fácil de comunicar que o da felicidade. Parece que, na miséria, tomamos consciência da nossa própria existência, que mais não seja sob a forma de um monstruoso egotismo: esta minha dor é individual, este nervo que se crispa pertence-me e não a outro. Mas a felicidade aniquila-nos: perdemos a identidade.
(...)
se acaso houver um Deus que ame, o Diabo deve ser levado a destruir mesmo a mais frágil, a mais defeituosa imitação desse amor. Não teria ele medo de que o hábito de amar se enraizasse, e não tentaria apanhar-nos a todos no papel de traidores, para ajudá-lo a exterminar o amor? Se há um Deus que se serve de nós, e faz os seus santos com esta matéria que somos, também o Diabo terá as suas ambições; pode sonhar educar mesmo um tipo como eu (...) para seus santos, aptos a, com um misticismo de empréstimo, destruir o amor onde quer que o encontremos.
(...)
Ninguém sabe como começa coisa alguma. Sarah acreditara de facto que o fim começara no momento em que vira o meu corpo. Nunca teria admitido que o fim tivera início muito antes: as chamadas telefónicas por uma ou outra absurda razão, as questões que desencadeei, quando me apercebi do perigo de o amor terminar. Haviamo-nos deixado olhar para além do amor, mas só eu tivera consciência do caminho que estávamos trilhando. Se a bomba tivessse caído um ano antes, não teria ela feito aquela promessa. Teria ferido os dedos a tentar libertar-me. Quando chegamos ao termo dos seres humanos, precisamos de iludir-nos com a crença em Deus, como um gastrónomo, que exige, com a comida, mais complicados molhos.
(...)
Escrevi ao principio que era isto um memorial de ódio; e, caminhando ao lado de Henry, em direcção ao copo de cerveja da tade, descobri a única oração que parecia contentar a tristeza do inverno: ó meu deus, já fizeste bastante, já me roubaste bastante, sinto-me por demais cansado e velho para aprender a amar, deixa-me em paz para sempre.”


* com um grande bem seja a ana vicente pela sugestão

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2 comments:

boa sugestão... espero que a vicente arrume mais uns livritos nesta estante ;)

O livro é lindíssimo, estou justamente a terminar de lê-lo e quase só o deixo para trabalhar... beijos e optima escolha!

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