antes que anoiteça
Reinaldo Arenas
"Antes que anoiteça"
Edições Asa, 2ª edição , 2001
(tradução: Pedro Tamen)
Eu pensava morrer no Inverno de 1987. Tinha, havia meses, umas febres terríveis. Consultei um médico e o diagnóstico foi SIDA. Como me sentia pior de dia para dia, comprei uma passagem para Miami e decidi morrer perto do mar. Não especificamente em Miami, mas na praia. Mas parece que, por um burocratismo diabólico, tudo o que se deseja se faz esperar, até a morte.
[...]
Por outro lado, não se praticava a prostituição, mas o prazer; era o desejo de um corpo por outro corpo, era a necessidade de satisfação. O prazer realizado entre dois homens era uma espécie de conspiração; algo que se dava na sombra ou em pleno dia, mas clandestinamente; um olhar, um piscar de olhos, um gesto, um sinal, eram suficientes para iniciar o gozo total. A aventura em si mesma, mesmo quando não chegava a culminar no corpo desejado, era já um prazer, uma surpresa.
[...]
Queria escrever e não podia; duas ou três linhas depois de começar soltava o papel e chorava de impotência. Eu dizia-lhe que ele era um escritor mesmo que nunca conseguisse escrever uma só folha, e isso consolava-o. queria que eu o ensinasse a escrever, mas escrever não é uma profissão, é antes uma espécie de maldição; o mais terrível é que ele tinha sido tocado por essa maldição, mas o estado em que os seus nervos se encontravam impedia-o de escrever. Nunca gostei tanto dele como naquele dia em que o vi sentado diante do papel em branco, chorando de impotência por não saber escrever.
[...]
Exorto o povo cubano, tanto no exílio como na Ilha, a que continue a lutar pela liberdade. A minha mensagem não é uma mensagem de derrota, mas de luta e de esperança.
Cuba há-de ser livre. Eu já o sou.
Muito bom!
Carrie disse... 23.8.06
li este livro e por vezes senti um murro no estômago.
Anónimo disse... 7.5.08
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