confissões sem fim

Thomas Mann
As confissões de Félix Krull
Cavalheiro de Indústria
Relógio D'Água Ed., Junho 2003


Nas horas vagas da minha aposentação, no momento em que pego na pena para registar as minhas recordações (são de corpo, mas cansado, tão cansado que a narrativa avançará por pequenas etapas, mas com frequentes interrupções), no momento - dizia - em que, com a minha letra nítida e agradável, me preparo para fazer as minhas confissões ao paciente papel, sou assaltado por um escrúpulo fugitivo. Com a minha cultura e a minha instrução, estarei eu à altura deste empreendimento intelectual? Como o que tenho a dizer se refere às minhas experiências, erros e paixões estritamente pessoais e directos, a minha dúvida incide apenas sobre o ritmo e a qualidade do meu modo de expressão. Ora eu penso que, em assuntos desses, os estudos aturados e levados até ao fim têm menos importância do que uma vocação natural e uma educação cuidada desde o berço.

(...)

- Maria - gritei.
- Ah! - gritou ela, também com uma alegria violenta. Um turbilhão de forças primitivas levou-me ao reino das delícias. E mais tempestuosamente que durante o sangrento espectáculo ibérico vi, sob as minhas ardentes carícias, palpitar muito alto seio real.

1 comments:

Primeira vez que entro aqui no seu blog e gostei muito do que vi. Possuo um blog sobre cinema, mas por ser fã incondicional de literatura, sempre fuço portais e blogs que abordem o tema (como o seu!). Pretendo voltar aqui com mais calma para apreciar detalhadamente esse rico espaço que você criou. Não sei se você conhece o blog literatura.interativo.org (é um dos melhores espaços sobre literatura que eu já li até hoje). Vale a pena dar uma conferida. Abraços do crítico da caverna cinematográfica.

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