A família morreu - paz à sua alma!

Anthony Giddens
Transformações da Intimidade. Sexualidade, Amor e Erotismo nas Sociedades Modernas
2ª ed., 2001, Oeiras, Celta Editora
(tradução de Rosa Maria Perez)



Sexualidade: um tema que pode parecer de irrelevância pública - uma preocupação absorvente, essencialmente privada, mas também um factor constante, sem dúvida, porque determinado pela biologia, e determinante para a continuação das espécies. E, todavia, o sexo surge agora permanentemente no domínio público e, além disso, fala a linguagem da revolução. Ao longo das últimas décadas deu-se uma revolução sexual e expectativas revolucionárias foram adstritas à sexualidade por muitos pensadores, para os quais ela representa um potencial estado de liberdade não contaminado pela civilização moderna.
Como interpretar tais reivindicações? Foi esta questão que me impeliu a publicar este livro. Preparo-me para escrever sobre sexo. Dou por mim a escrever também sobre amor e sobre género. A verdade é que os trabalhos sobre sexo tendem a ser sobre género. Em alguns dos mais notáveis estudos sobre sexualidade escritos por homens não há referências ao amor e o género surge como uma adenda. (...) Concentrar-me-ei antes no plano emocional em que as mulheres - tanto mulheres comuns, na sua vida quotidiana, quanto grupos feminista autoconscientes - foram pioneiras de mudanças de grande e generalizável importância.

(...)

Para nós, a sexualidade ainda transporta um eco do transcendente. Todavia, ela está neste caso envolta numa aura de nostalgia e de desapontamento. Numa civilização dependente da sexualidade, a morte ficou destituída de significado; a política da vida implica, hoje, a renovação da espiritualidade. Deste ponto de vista, a sexualidade não é a antítese de uma civilização dedicada ao crescimento económico e ao controlo técnico, mas a incorporação do seu fracasso.

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